BOAS INTENÇÕES NÃO BASTAM

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Sempre se ouve dizer que o que vale no fundo é a intenção de uma pessoa, mesmo que ela não obtenha sucesso. Será isso verdade? A primeira parte do segundo milênio foi marcada pelas cruzadas. Elas foram a tentativa dos europeus, sob a direção da igreja, de recuperar os lugares santos da cristandade que estavam sob o domínio dos muçulmanos, como as cidades de Jerusalém, Belém e Antioquia. O que marcou essas campanhas foi a motivação religiosa que os guerreiros tinham, mesmo que seus líderes tivessem intenções menos nobres. Muitos lutaram e morreram com a certeza de que isso os levaria ao céu. Não era apenas uma disputa pela posse de territórios. Era uma batalha que faria com que os guerreiros herdassem a vida eterna.

Como resultado, milhares de soldados morreram confiando na recompensa do seu esforço aqui na terra para serem salvos. Infelizmente, isso não os impediu de cometerem atrocidades nessas campanhas, como saquear camponeses das terras por onde passaram e promover o extermínio de judeus. Outro erro crasso, envolto no bom intento de confiar em Deus, foi enviar um batalhão de crianças para lutar contra os inimigos. Acreditava-se que Deus as protegeria por serem puras e inocentes. A maioria dessas crianças foi morta à espada e por afogamento, sem falar no grande número de crianças que foram escravizadas. Assim como no caso das cruzadas, uma intenção nem sempre atinge seu objetivo.

Surge então a dúvida a respeito da validade dos meios que são empregados para se chegar a Deus e para ter a garantia da vida eterna. Será que os caminhos trilhados nessa busca realmente levam os homens ao destino desejado? Uma boa pergunta a se fazer é: “As boas intenções são capazes de ajudar na busca ao Senhor? ” Em outras palavras: mesmo que alguém não siga o caminho determinado por Deus, o fato de fazê-lo com boa intenção compensa a desobediência? Será que, mesmo fazendo algo que Deus desaprova na busca da vida eterna, ele leva em conta a boa intenção e aceita a tentativa? Será que realmente “todos os caminhos levam a Deus” desde que se queira de fato alcançá-lo? Todos têm alguma ideia definida sobre o valor das intenções de um ato.

Costuma-se valorizar a boa intenção de forma a perdoar as falhas. Diz-se que um indivíduo, mesmo errando, tem mérito na ação devido ao desejo de acertar e de fazer o que é bom. Se ele porventura não conseguiu é porque, como todo ser humano, é passível de erro. De certo modo, essa é uma visão válida, pois corresponde à condição imperfeita em que o homem vive. O próprio apóstolo Paulo narra sua experiência pessoal ao dizer: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7.15,18,19). Não obstante, ele foi o grande apóstolo dos gentios e um grande servo de Deus. Foi aprovado no ministério e completou vitoriosamente sua carreira.

Por outro lado, Deus não aceita imperfeições. Elas são incompatíveis com a sua natureza. Nenhum erro habita nele, nem é aceito em sua presença. Nenhum pecado pode ficar sem punição diante do Deus santo, puro e perfeito. Para que houvesse relacionamento entre o Criador e suas criaturas, Deus castigou duramente as falhas humanas na pessoa do seu Filho Jesus Cristo na cruz do Calvário, abrindo um “caminho estreito” que leva o pecador arrependido até ele. Jesus disse: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão” (Lucas 13.24), “porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mateus 7.14). Desse modo, Deus limitou o acesso aos céus por meio da obra de Jesus Cristo, o que independe da intenção das pessoas.

Vêm à mente, nesse momento, dois ditos populares.

O primeiro diz que “o que vale é a intenção”. Isso é o mesmo que afirmar que Deus não se importa com o que o homem faz, mas sim com sua motivação. Neste caso, todos os caminhos que intentem levar à salvação são potencialmente válidos, ficando dependentes da sinceridade com que são buscados. Se isso for verdade, não importa o que Deus tenha revelado a respeito de si mesmo e do meio específico para o homem obter a salvação. Desde que haja a intenção de agradar a Deus, tudo o mais é irrelevante e o erro pode ser desconsiderado.

O segundo dito popular é: “O inferno está cheio de boas intenções”. Está implícita nessa afirmação a ideia de que, a despeito das intenções e dos desejos pessoais, por mais sinceros que sejam, se forem ignorados o plano de Deus, a sua vontade e o meio que ele preparou para que os homens sejam salvos, o resultado será condenação eterna. Não basta apenas querer servir a Deus. É preciso servi-lo. E nessa tarefa não é o servo quem estipula o serviço, mas sim o Senhor. Deve ficar claro que o que é descrito aqui como “boas intenções” são “desejos pessoais e convicções humanas que ‘não’ coincidem com a vontade de Deus”. Assim, a pergunta em questão é: “Uma pessoa que segue um caminho que Deus não aprova será justificada pelo fato de fazê-lo com sinceridade?” Jesus disse: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6.46). Ele refutou a afirmação de pessoas que se diziam seus servos, mas que não faziam a sua vontade. Elas desejavam os benefícios desse relacionamento, mas não queriam arcar com as responsabilidades de abandonar os seus próprios caminhos para seguir o do Senhor.

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7.21-23).

O Senhor negou que boas intenções que não atingem o alvo correto sejam válidas. Na sequência dessa declaração, ele afirmou que o fator essencial à validade da busca a Deus está em “ouvir” o que ele diz e “praticar”.

“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína” (Mateus 7.24-27).

A Bíblia conta a história de algumas pessoas que, apesar de seus bons intentos, não agradaram a Deus em certas ocasiões. Tais histórias servem como referências para a análise da questão das “boas intenções” e ressaltam a necessidade e a urgência de se seguir as orientações de Deus.

 “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16.26).

Leia mais no livro “Boas Intenções Não Bastam” de Thomas Tronco.

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