PROFISSÃO: PAI DE ADOLESCENTE
UMA OPORTUNIDADE PARA LIDAR COM QUESTÕES DA FÉ BÍBLICA NA VIDA DOS SEUS FILHOS
As histórias de rebelião bruta e flagrante são uma das razões porque os pais temem os anos da adolescência. A ideia de que uma doce criança possa se transformar no líder de uma violenta gangue é o pior pesadelo de um pai. Temos que reavaliar nossa expectativa de rebelião automática do adolescente. Ao mesmo tempo, temos que reconhecer que esta é uma era em que os filhos tentam ultrapassar os limites, em que as tentações são abundantes e em que os relacionamentos com amigos nem sempre promovem o bom comportamento.
Recebemos um daqueles tenebrosos telefonemas num domingo à tarde. Era uma mãe de nossa igreja dizendo que nosso filho não havia dormido em sua casa, como pensávamos. Ela nos contou que nosso filho havia pedido a seu filho que o acobertasse, mas ele teve um despertar de consciência e pediu ajuda à mãe. Ela telefonou a nós. Ficamos com medo e desapontados. Por um momento, nos rendemos à pior das hipóteses. Quantas vezes ele havia mentido? Estávamos convivendo com um filho que não conhecíamos? Ao mesmo tempo, estávamos profundamente agradecidos pela misericórdia libertadora do Senhor. Perguntamos a nosso filho e ele confessou. Foi um momento divisor de águas em que ele escolheria a quem servir. Saímos do quarto tão agradecidos porque um evento que esperávamos que nunca acontecesse tinha, no plano de Deus de misericórdia, acontecido.
Há desejos que fazem o adolescente ficar susceptível à tentação de se rebelar: o desejo de ser um indivíduo e pensar por si mesmo, o desejo de liberdade, o desejo de experimentar coisas novas, o desejo de testar os limites, o desejo de estar no controle, o desejo de tomar suas próprias decisões, o desejo de ser diferente, o desejo de se adequar e o desejo de ser aceito. Estes, bem como inúmeros outros desejos, todos estimulados pela autonomia e egocentrismo da natureza do pecado, podem certamente levar o adolescente para o mau caminho.
Por outro lado, esses conflitos de rebelião e submissão se tornam o contexto em que outros temas bíblicos podem ser discutidos, aplicados e internalizados. As verdades bíblicas que se relacionam com autoridade, semear e colher, natureza da verdade e da falsidade, sabedoria e insensatez, lei e graça, confissão, arrependimento, perdão e a natureza e função do coração, todos esses tópicos podem ser abordados em meio a esses momentos cruciais de submissão e rebelião. Os pais que têm olhos voltados para a oportunidade terão muitas e muitas chances de lidar com as questões centrais da fé bíblica na vida de seus filhos adolescentes.
Uma das coisas que assustam os pais e é fonte de insegurança para seus filhos é a súbita explosão do mundo do adolescente. De repente, parece que o mundo fica maior. Aquele menino ou menina que ficava horas brincando no quintal, agora percorre muitos quilômetros em busca de novos lugares, novas experiências e novos amigos.
Este mundo nem sempre é excitante para o adolescente. Às vezes, ele parece ser assustador e esmagador. Há momentos em que o adolescente se mostra animado com a alegria da descoberta e há outros em que ele fica tímido e distante. Às vezes, ele gosta de ser adolescente, às vezes, parece ter medo das expectativas postas sobre ele.
Não há como interromper a expansão de seu mundo. É um mundo de novos amigos, novos locais, novas oportunidades e responsabilidades, novos pensamentos, novos planos, novas liberdades, novas tentações, novos sentimentos, novas experiências e novas descobertas. Todas as alegrias e inseguranças desse mundo em expansão fornecem oportunidades para você ajudar o adolescente a entender e pessoalmente internalizar verdades fundamentais. Tais verdades incluem a soberania e a providência de Deus, o auxílio sempre presente do Senhor, a natureza dos relacionamentos bíblicos, batalha espiritual, disciplina, autocontrole, satisfação, fidelidade, fidedignidade, natureza do corpo de Cristo, o mundo, a carne e o diabo, os princípios da responsabilidade e da prestação de contas, prioridades bíblicas, descobertas e exercício de dons, além de muitas outras verdades e princípios bíblicos. A lista é bastante extensa, mas este mundo em expansão provê maravilhosas oportunidades para os pais prepararem seus adolescentes para uma vida eficiente e produtiva no mundo de Deus.
A primeira coisa a ser feita ao formarmos uma visão bíblica da educação de nossos adolescentes é rejeitar o cinismo sombrio e agourento de nossa cultura. É verdade, a adolescência traz mudança, insegurança e tumulto, mas são estas as coisas que Deus usa para trazer a verdade à luz aos olhos de nossos filhos. Se desejamos ser Seus instrumentos, temos que lidar com nossa própria idolatria e aplicar uma fé bíblica robusta a cada momento difícil, uma fé que creia que Deus governa sobre todas as coisas para o nosso bem, que ele é auxílio sempre presente na angústia, que ele opera em toda situação realizando o seu propósito redentor e que a sua Palavra é poderosa, ativa e eficaz.
Não queremos ser levados a assumir uma posição defensiva de sobrevivência por causa da insegurança, da rebelião e do mundo em expansão do adolescente. Ao contrário, desejamos considerar o chamado de Paulo a Timóteo como a agenda de Deus para nosso trabalho com os adolescentes. “Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina” (2 Timóteo 4:2). Desejamos encarar essa importante época com esperança; não esperança em nossos adolescentes ou esperança em nós mesmos, mas esperança em Deus, que é capaz de fazer mais do que qualquer coisa que pedimos ou imaginamos, ao aproveitarmos as oportunidades que ele coloca em nosso caminho. Desejamos encarar essa época com senso de propósito e de chamado.
Quando as pessoas perguntarem com o que você trabalha, diga: “Sou pai de um adolescente. Este é o emprego mais importante que já tive. Todas as outras coisas que faço na vida são secundárias.” Depois diga: “Sabe, nunca tive um emprego tão estimulante e tão cheio de oportunidades. Eu sou necessário todos os dias. Faço coisas importantes, proveitosas e duradouras todos os dias. Não deixaria este emprego por nada no mundo!”
Paul Tripp
Leia mais: